segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Famílias Brasileiras antigas e carreiras militares

Meus primos em linha paterna que seguiram a carreira militar no século XX. Descendentes do meu trisavô João Gomes de Oliveira, Capitão da Guarda Nacional, de Joinville e do meu trisavô, José Antonio de Oliveira, Coronel da Guarda Nacional, de São Francisco do Sul:

General Decio Gorrensen de Oliveira
General Numa Lobo de Oliveira
General Celso Numa de Oliveira
Almirante Leopoldo Francisco Correa Dias de Paiva
Coronel Aviador Flavio Eduardo Gomes de Oliveira
Coronel Aviador João Vitor Gugisch de Oliveira
Coronel de Infantaria Joaquim de Oliveira S. Thiago
Coronel de Infantaria Paulo S. Thiago Fernandes
Coronel de Infantaria Argos Gomes de Oliveira
Tenente Coronel Aviador João Carlos Gomes de Oliveira
Capitão Aviador Bernardo Stamm Gomes

Depois dizem que os catarinenses não gostam da cultura castrense !

A primeira sesmaria da minha varonia se chamava Areias Grandes ou Conquista (carta de data no Arquivo Nacional). Assentada próxima de sambaquis indígenas, como se verifica aqui neste mapa.

http://www.museusambaqui.sc.gov.br/museusambaqui/includes/mapa_expo.pdf

Quem batizou àquelas terras ancestrais com o nome de “Conquista” certamente tinha uma cultura bélica muito antiga e posteriormente transmitida aos descendentes até o século XX. Todos eram das ordenanças, gente armada muitas vezes até os dentes. Lamentavelmente tenho na minha genealogia alguns acidentes fatais à bala, tanto na parte paterna como na materna. Pelo lado materno a família da minha mãe também está repleta de militares, desde o meu bisavô, participante das revoltas tenentistas de 1924, em São Paulo (ele pessoalmente ocupou a manu militari o jornalão “O Estado de São Paulo” como censor durante a revolta inteira) e da gloriosa jornada de outubro de 1930. Pelo lado do meu bisavô Caldas eu tenho um primo, que foi da Força Expedicionária Brasileira na Itália, Tenente do exército. O meu 4° tio avô, o Coronel Frederico Carneiro de Campos, a primeira vítima brasileira do tirano paraguaio Solano López, cuja afronta significaria um furacão destrutivo naquela república. Sou parente em algum grau de muitos e muitos militares de alta patente no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e na Colônia do Sacramento. É o que eu sempre falo, o tamanho do território do Brasil foi do tamanho da nossa gente armada. Meu 4° Avô, Carlos Augusto da Rocha Freire, Capitão de Fragata da Marinha Imperial, combateu a Cabanagem no Grão-Pará. Pelo lado materno sou parente do Duque de Caxias pelos Amaral Gurgel e sou parente do Conde de Porto Alegre, pelos Azevedo Marques, família do meu 6º Avô, Manoel de Azevedo Marques, Capitão-Mor da Colônia do Sacramento em1752. O marechal Olímpio Falconière da Cunha, um dos comandantes da FEB na participação brasileira na segunda Guerra Mundial é parente distante dos Gomes de Oliveira. E por aí vai ...

domingo, 29 de agosto de 2010

O Estado Necessário. Geisel votou em Lula em 1994 ?


Consta que Geisel teria votado em Lula nas eleições de 1994. Simbolicamente seria a transmissão de certa tradição entre duas fases históricas do Brasil. A herança e a missão do nacional desenvolvimentismo. O Estado Nacional Brasileiro é uma das maiores organizações e instituições mundiais. É a maior obra produzida por muitas gerações dos falantes da língua portuguesa na América do Sul. Trata-se de uma tradição estatal iniciada por D. João III, nos primórdios do século XVI. O Brasil é o herdeiro de jure e de fato do Império Português. Nós somos os herdeiros, os descendentes do Estado e dos navegadores, que atravessaram o Atlântico e conectaram a Europa, a África, a Ásia e a América pela primeira vez. Tornamo-nos Colônia, Vice-Reinado, Reino Unido, Império e finalmente República Federativa. A nossa capital já esteve em Salvador, no Rio de Janeiro e passou para Brasília. Sobrevivemos, crescemos e existimos como sociedade e grupo étnico porque sempre tivemos um Estado estruturante. Foram decisivas as direções e gestões políticas de um Marquês de Pombal, um D. João VI, um José Bonifácio, um Marquês de Caravelas, um Duque de Caxias, um Rio Branco, um Oliveira Vianna, um Getúlio Vargas, um Golbery do Couto e Silva e agora um Lula da Silva na dinâmica do pensamento e na gestão estatal brasileira. Geisel e Lula governaram na longa duração da tradição da conciliação política brasileira, associando o arcaico e o moderno. Voltamos a crescer e a ganhar importância mundial nos últimos anos porque retomamos a nossa boa tradição. Somos pioneiros e destaque no plano energético mundial por dois motivos. O programa do álcool foi primeiramente desenvolvido pelo governo Geisel. No governo Lula houve a expansão dos veículos flex, com álcool e gasolina, o que acarretou uma nova fase dos biocombustíveis no Brasil. O álcool/etanol caminha para ser uma commodity internacional. Com Geisel a Petrobrás aprofundou a prospecção petrolífera marítima e desenvolveu as bases para a extração na Bacia de Campos. No governo Lula foi descoberto o Pré-Sal e se iniciou a sua exploração. O governo Geisel foi o primeiro a reconhecer a independência de Angola e estabeleceu fortes vínculos no Oriente Médio, especialmente com o Iraque. O governo Lula estabeleceu relações com os países da África, Ásia e América Latina, hoje com relações comerciais maiores do que as mantidas com os Estados Unidos e com a Europa. Se o Iraque era um símbolo da política externa de Geisel, o Irã é de Lula. Geisel ampliou a base hidrelétrica nacional nas obras de Itaipu e Lula a segue ampliando com as novas hidrelétricas na região Norte, com Jirau, Santo Antônio, Belo Monte e outras na integração da Amazônia. A ocupação e a colonização das novas fronteiras agrárias e pecuárias se destacaram nos dois períodos. Geisel fortaleceu as grandes empresas brasileiras no mercado nacional e no internacional. Empresas como a Engesa, a Avibrás, a Embraer, a Vale do Rio Doce, a Petrobrás, a nacionalização das telecomunicações. Geisel buscou a independência e a autonomia nuclear do Brasil, objetivo também seguido por Lula em várias áreas, inclusive na produção de submarinos nucleares, indispensáveis à moderna defesa dos mares. Empresas nacionais fortes e amparadas pelo Estado fizeram parte da agenda estratégica dos dois governos. Com Lula as empresas nacionais, com apoio do BNDES, passaram a uma nova etapa na sua globalização e internacionalização. Mais produção, mais consumidores. Empresas como a Gerdau, Sadia, Perdigão, Votorantim, Coteminas, JBS, Cosan, Embraco, WEG e outras ganham tamanho, se ampliam e promovem novas fusões em escala mundial. Um brasileiro, Eike Batista, entrou na lista dos mais ricos do mundo pela primeira vez. A importância mundial e o prestígio do Brasil crescerão com a Copa do Mundo e as Olimpíadas no país. O governo Lula promove forte crescimento econômico em 2010, com a diminuição das desigualdades e inclusão social. Dezenas de milhões de brasileiros saíram da pobreza, ingressaram na condição de consumidores e constroem a sua cidadania com o Estado e suas políticas sociais. O mercado interno cresce vigorosamente e as exportações cresceram de maneira acelerada desde 2002. Os investimentos em educação foram retomados, novas instituições públicas com ensino de qualidade foram criadas e ampliadas. A consolidação da democracia tornou-se uma realidade de uma nova sociedade aberta, plural, promotora de desenvolvimento e crescimento para todos. Respeito aos contratos e respeito às instituições. O Brasil Grande torna-se um sonho mais próximo.

Ricardo Costa de Oliveira
Sociólogo, Cientista Político.
Professor da UFPR

sábado, 24 de julho de 2010

Etnia brasileira, miscigenação brasileira

Toda ideia de raça e todas as etnias re­­presentam constructos históricos e políticos. Identidades também são invenções na forma de comunidades imaginárias. A existência de uma etnia é um processo social, econômi­­co, cultural, político e intelectual. As bases iniciais da formação da etnia brasileira encontram-se nos séculos 16 e 17. O encontro dos navegantes portugueses com os índios do litoral forjou uma nova camada étnica. As genealogias clássicas brasileiras demonstram a centralidade e a importância de um João Ramalho, um Caramuru, um Jerônimo de Albuquerque e muitos outros. A estátua de Arariboia guarda a entrada de Niterói, aliado supremo na conquista da Baía da Guanabara. No século 17 já eram protobrasileiros os senhores da formação do Brasil. Os bandeirantes representavam a rica miscigenação entre europeus, indígenas e africanos. Os bandeirantes dilataram as fronteiras do Brasil na luta contra o império espanhol. Os bandeirantes já eram um produto essencialmente brasileiro, síntese de múltiplas miscigenações. O teste decisivo na criação do Brasil foram as Guerras Holandesas. O exército que derrotou os holandeses foi um exército bem brasileiro, bem misturado e miscigenado. No livro Castrioto Lusitano está imortalizada a frase: “Os governadores de índios e negros, D. Antônio Felipe Camarão e Henrique Dias fizeram conhecer ao mun­­do que o valor não é herança senão excelência”. O Exército Brasileiro tem as suas raízes nas Batalhas de Guararapes, na luta pela integridade territorial do Brasil. O processo de formação da etnia brasileira, iniciado no período colonial, continua em evolução, crescendo e se fortalecendo ao longo dos séculos. Foram os nascidos no Brasil os que mais contribuíram para a conquista e a colonização da Amazônia, do Guaporé, de Mato Grosso, do Brasil Central, das disputadas fronteiras do Sul do Brasil. Um esforço gigantesco canalizado para a formação de um dos maiores países do mundo, em todas as dimensões. Com a Independência, o Brasil adota o jus soli, um generoso processo de recepção e absorção de novos migrantes e seus filhos à sociedade nacional já iniciada, com um Estado nacional, língua nacional, cultura e valores próprios. A etnia brasileira, síntese do povo brasileiro desde os séculos coloniais, lutou contra ameaças e inimigos variados da ordem e inimigos da grei brasileira miscigenada. Hoje relacionamos o tamanho do Brasil a todos os que o defenderam e contribuíram, com seus esforços e sacrifícios, para que o Brasil tenha as fronteiras que nós temos hoje. No século 20 a etnia brasileira soube se defender das ameaças e agressões do nazifascismo. Na conjuntura da Segunda Guerra Mundial foi bem conduzida uma campanha de nacionalização para integrar plenamente as comunidades migrantes ao conjunto nacional. O objetivo do desenvolvimento nacional, com avanços em todos indicadores da qualidade de vida, é uma tarefa para todos os brasileiros. Não é possível dividir os brasileiros, um povo essencialmente miscigenado e misturado, entre diferentes origens ameríndias, europeias, africanas e asiáticas. Nenhuma política racialista promotora de pequenos apartheids, em termos de políticas públicas, consegue resultados ao longo do tempo. Políticas racialistas só podem reforçar ideias racialistas ou racistas, privilégios inconstitucionais. A etnia brasileira é uma síntese universal da história brasileira e o racismo só pode ser desconstruído e combatido com o resgate da cidadania e políticas universais de com­­bate à pobreza. A nossa miscigenação, histórica ou consensual ao longo de mais de 500 anos, foi um dos fatores centrais para a existência do Brasil. Um país que deve ser cada vez maior e mais justo para todos, sempre com o esforço e a dedicação de todos.

Ricardo Costa de Oliveira, sociólogo, é professor da UFPR.
Publicado em 18/06/2010 na Gazeta do Povo, Curitiba.