quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Dos primeiros reis alanos na Lusitânia




Bernardo de Braga escreveu um interessante manuscrito histórico referente à antiguidade do Reino de Portugal: BERNARDO de Braga, O.S.B. ?-1605, Tratado sobre a precedencia do Reino de Portugal ao Reino de Napoles / composto por Frei Bernardo de Braga, copiado por Albano Antero da Silveira Pinto. - Porto : Typ. da Revista, 1843. - 54 p. ; 19 cm. - Copiado de um manuscrito autentico existente na Torre do Tombo O autor narra a existência original de uma nova entidade e categoria política, pela primeira vez criada no oeste da península Ibérica, com a entrada dos Alanos e Suevos a formar as bases de novos reinos pós-romanos ("como estes reinos tiveram princípio nos Alanos e Suevos"). Pela primeira vez o título de rei era empregado na Península Ibérica: Rapantianus Lusitania rex, Rapantianus é transcrito em diferentes grafias como Resplandiano ou Respendial. Este chefe alano conduziu a imigração e invasão alana do Império Romano, desde a travessia do Reno, em 406, até a Lusitânia, em 409. Este primeiro rei alano foi sucedido por Ataces (também escrito como Atax, Attaces), Ataces Lusitanae rex. Com o manuscrito de Bernardo de Braga e com Frei Bernardo de Brito surgiu o relato do conflito entre o rei alano da Lusitânia Ataces, contra o rei suevo da Galécia, Hermerico, ao norte. O acordo de paz foi a mão da princesa Cidasunda, ou Cindasunda, filha do último, oferecida como casamento em uma aliança entre Ataces e Hermerico. Tanto Bernardo de Braga como Bernardo de Brito, o autor de Monarquia Lusitana, descrevem a nova simbologia unindo neste casamento o leão vermelho alano e o dragão verde suevo, em suas bandeiras e estandartes. A bandeira é bem anterior àquela proposta para a bandeira sueva, "bandera sueva" informada pela "Junta del Reino en 1669 por la Catedral de Lugo" ! Frei Bernardo de Braga antecipou-se aos galegos do norte em mais de 150 anos ! O brasão de Coimbra simbolizava a aliança entre os dois reis. Ataces morreria depois em batalha contra os visigodos, próximo a Mérida, em 419. Tal como Dom Sebastião, o reino perderia o seu rei em batalha, tanto em 419 como em 1578. As fontes documentais alegadas foram documentos manuscritos escritos pelo Bispo Aldeberto, manuscritos presentes no Mosteiro de Alcobaça e no Mosteiro de Carquere sobre o Douro. Portugalia regnum partim ex Lusitania partim ex Galacia constat, parte deste reino de Portugal consta da Lusitania, parte da Galiza. Braga tornaria-se a capital do reino suevo depois da morte de Ataces. Quais os elementos de lenda, mito ou realidade histórica presentes na narrativa ? Curiosamente os atuais ramos remanescentes de grupos considerados "alanos" da Ossétia, no Cáucaso, ainda possuem como símbolo a figura do leão ! O mesmo símbolo descrito por Frei Bernardo de Braga e por Frei Bernardo de Brito ! Logo, havia certa base na realidade histórica ! Parte das antigas genealogias e linhagens informam Mendo Alão (ou Mendo Alam), senhor de Bragança, como procedendo dos reis alanos e tendo uma mulher filha de um rei da Armênia (História de Portugal Restaurado, Luis de Menezes Ericeira) . Há várias versões de rapto e violência, mas a dimensão mítica da lenda aponta para a Armênia, região próxima da origem caucasiana dos alanos. Além das lendas os alanos podem ser a origem de uma assinatura genética de uma linhagem rara encontrada na população portuguesa. Trata-se do marcador genético do cromossomo Y DNA M365+, encontrado exclusivamente somente em pequenas frequências no oeste da Península Ibérica e na Anatólia Oriental-Geórgia. O modal encontrado nos haplótipos portugueses é claramente reconhecido pelo trio DYS 393=13, 390=22, 19=15 como condição provável do SNP M365+. Pesquisas realizadas nas amostras de ADN/DNA de populações de origem portuguesa, em Portugal continental, nos Açores e no Brasil apontam a existência deste raro marcador genético em cerca de 0,2 a 0,8% de qualquer amostra representativa de DNA português, não sendo encontrado na Meseta castelhana, na Catalunha, na Andaluzia ou no País Basco. Como o haplogrupo J1b M365+ entrou em Portugal e adquiriu semelhante frequência e distribuição ? Nenhuma outra população oriental apresenta o J1b M365+, nenhum caso encontrado em populações árabes ou judaicas, nenhum caso encontrado na África do Norte ou no Mediterrâneo. Apenas os dois extremos da Europa, a orla ocidental de Portugal e a Anatólia-Cáucaso verificam a presença desta linhagem genético-genealógica, o que pode ser uma identificação da migração alana para a Lusitânia e para o noroeste da Península Ibérica ? Talvez a sua distribuição possa se relacionar a algum fenômeno descrito pela passagem dos alanos em Portugal, uma exclusividade genética da população portuguesa no conjunto da Europa Atlântica, afinal foram alanos os primeiros reis do que se tornaria Portugal depois. Mais pesquisas são necessárias, mas a direção para a explicação dos M365+ em Portugal parece estar literalmente orientada !

Ricardo Costa de Oliveira