sexta-feira, 9 de maio de 2008

O Brasil se imagina e se inventa na luta em Guararapes








Manoel de Barros de Araújo, 10º Avô, natural de Goiana, Pernambuco.


A família foi atingida pelas guerras holandesas, passando para a Bahia por volta de 1635. Passou para o Rio de Janeiro em 1643 para ocupar o posto de Capitão da Guarda do Governador Luiz Barbalho Bezerra. Coronel de Ordenanças em 1691. Cavaleiro Professo da Ordem de Cristo. Senhor do Engenho de Saracuna.


Conclui Diogo Lopes Santiago, que após duas ou três horas de luta titânica, sem quartel, Vieira "se foi unir e incorporar com André Vidal de Negreiros, Francisco Figueiroa e Antônio Dias Cardoso, e todos juntos foram apertando com o inimigo de tal sorte que o fizeram precipitar e despenhar por aquelas barrocas e grotas dos montes Guararapes, donde lhe fizeram grande estrago e mortandade, com que estava já toda aquela campanha dos altos e baixos dos montes lastrada e juncada de corpos mortos do inimigo, que era uma cousa horrenda e espantosa de ver tanta mortandade, tantas e tão espantosas feridas, tantos corpos sem cabeças, braços, pernas, uns já mortos, outros agonizando e lutando com a morte, outros revolvendo-se em sangue e muitos urrando e gritando com as ânsias e agonias mortais, não poucos dando e exalando o último suspiro".13O cenário realístico, pintado com cores vivas pelo cronista português, está bem de acordo com o relatório do oficial holandês, quando analisa a maneira de lutar das forças luso-brasileiras:Em referência ao combate acima relatado, observei principalmente duas particularidades que, em minha opinião, merecem bem atenção : em primeiro lugar, as tropas do inimigo saindo do mato e por detrás dos pântanos e de outros lugares tinham a vantagem da posição, atacavam sem ordem e em completa dispersão e aplicavam-se a romper diferentes quadrados. Em segundo lugar, as tropas do inimigo são ligeiras e ágeis de natureza, para correrem para diante ou se afastarem, e por causa de sua crueldade inata são também temíveis. Compõem-se de brasileiros, tapuias, negros, mulatos, mamelucos, nações todas do país e também de portugueses e italianos, que têm muita analogia com os naturais do país quanto à sua constituição, de modo que atravessam e cruzam os matos e brejos, sobem os morros tão numerosos aqui e descem tudo isso com uma rapidez e agilidade verdadeiramente notáveis. Nós, pelo contrário, combatemos em batalhões formados como se usa na mãe pátria, e nossos homens indolentes e fracos, nada afeitos à constituição do país; disso resulta que essas espécies de ataque com armas de fogo, como acima se trata, devem inevitavelmente tem bom resultado, e que rompendo nossos batalhões e pondo-os em fuga, matando-nos um maior número de soldados em perseguição do que teriam feito em combate mesmo. [...] Além disto as peças de artilharia de campanha não podendo ser apontadas sobre bandos ou grupos dispersos, tornam-se inteiramente inúteis, ou para melhor dizer, transformaram-se em verdadeiras charruas para o nosso exército, sem contar uma multidão de outros inconvenientes, muito numerosos para serem aqui apontados.14A segunda batalha dos Montes Guararapes foi um dos maiores fracassos da história dos exércitos holandeses. Enquanto as perdas do lado luso-brasileiro foram computadas em 47 mortos e 200 feridos, do lado holandês perderam à vida o comandante geral, Tenente General Johan van den Brincken, o Vice-Almirante Giesseling e 101 outros oficiais que, somados as demais perdas, perfaziam um total de 1.044 mortos e mais de 500 feridos. E foram tomadas muitas armas de fogo e grandessíssima quantidade de chuços e piques, de que vinham bem armados e providos contra as nossas espadas; porém não foram de nenhum efeito". No amanhecer no dia seguinte, relata o cronista, foram recolhidas no campo da batalha "dez bandeiras, seis canhões, muita pólvora, balas, munições e toda a mais bagagem, onde vinha muito de comer, com que se alentaram os nossos soldados. 15No depoimento de Joan Nieuhof (op. cit), "tanto na luta como na fuga, as nossas perdas ultrapassaram de 1.100 homens, entre os quais o Coronel Brink e quase todos os demais comandantes. Perdemos ainda 19 bandeiras bem como toda artilharia e munição que havíamos levado. Somente depois de cinco dias conseguimos permissão para enterrar os mortos que, já possessos de franca putrefação, devido ao calor causticante do sol, exalavam um cheiro nauseabundo, terrível".Essa foi a última tentativa que poderíamos ter feito em campo aberto. Todos os nossos cuidados futuros se concentrariam na manutenção e defesa do Recife, a menos que recebêssemos novos reforços da Metrópole

13 SANTIAGO, Diogo Lopes. Op. cit. p. 554.14 Relatório do Coronel Miguel van Goch, datado de 22 de fevereiro de 1649. Op. cit. p. 27-28.15 SANTIAGO, Diogo Lopes. Op. cit. p. 555.

http://www.pernambuco.com/diario/2004/01/19/especialholandesesf296_0.html

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